A escoliose é uma curvatura anormal da coluna vertebral, que afeta principalmente crianças e adolescentes em fase de crescimento. Embora muitas vezes silenciosa no início, essa condição pode evoluir rapidamente, trazendo repercussões significativas para a saúde física, emocional e social do jovem. Nesse cenário, a adoção de políticas públicas eficazes de triagem nas escolas e o acompanhamento multiprofissional tornam-se fundamentais para a detecção precoce, o tratamento adequado e a prevenção de complicações.
Estudos indicam que até 3% da população infantil e adolescente apresenta algum grau de escoliose, sendo a escoliose idiopática do adolescente (EIA) a forma mais comum. Destes, cerca de 10 a 30% podem apresentar progressão significativa da curva, especialmente durante o estirão do crescimento, o que pode exigir uso de colete ou até mesmo cirurgia, caso não haja intervenção precoce.
A progressão pode comprometer a postura, a função pulmonar, o desempenho esportivo e a autoestima, além de representar altos custos ao sistema de saúde.
A escola é o ambiente ideal para a triagem inicial, pois reúne um grande número de crianças em idade de risco. Programas de avaliação postural periódica podem ser conduzidos por fisioterapeutas, médicos da família ou enfermeiros capacitados, em parceria com professores de educação física. Instrumentos simples, como o Teste de Adams, a observação do triângulo de Tales, assimetrias de ombros, escápulas e cristas ilíacas, permitem identificar sinais suspeitos de escoliose que merecem encaminhamento.
Além disso, o olhar atento do educador físico, que convive diariamente com os alunos, pode ser decisivo na percepção de alterações posturais. Quando esses profissionais são treinados para realizar uma triagem básica e encaminhar os casos adequadamente, o sistema de saúde ganha em agilidade e efetividade.
Após a triagem, é essencial garantir o acesso rápido a uma avaliação multiprofissional integrada, com envolvimento do fisioterapeuta e do médico, especialmente o ortopedista. O fisioterapeuta pode realizar uma análise postural funcional e propor intervenções iniciais baseadas em exercícios específicos, enquanto o ortopedista é responsável por confirmar o diagnóstico por imagem, mensurar o grau da curvatura e indicar a melhor conduta – seja observação, fisioterapia intensiva, uso de órteses ou, nos casos mais graves, cirurgia corretiva.
O acompanhamento multiprofissional é outro pilar indispensável. Fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, psicólogos e assistentes sociais desempenham papéis complementares no manejo da escoliose. O tratamento pode envolver exercícios posturais específicos, fortalecimento muscular, adaptação no ambiente escolar e acolhimento emocional do aluno e da família.
Políticas públicas de saúde escolar devem incluir a triagem sistemática da escoliose a partir dos 10 anos de idade, com repetições anuais até o fim da adolescência. Para isso, é necessário capacitar profissionais, investir em materiais educativos, integrar dados com prontuários escolares e criar fluxos bem definidos entre educação e saúde.
Além do impacto individual, a detecção precoce evita tratamentos de maior complexidade e custo. Um diagnóstico feito tardiamente pode implicar em intervenções cirúrgicas onerosas, longos períodos de afastamento escolar e reabilitação prolongada. Já uma abordagem precoce, por outro lado, promove qualidade de vida e reduz as desigualdades no acesso ao cuidado.
Por fim, prevenir a progressão da escoliose é uma questão de equidade e cuidado com o futuro. Crianças e adolescentes bem acompanhados crescem com mais saúde, confiança e autonomia. Cuidar da coluna delas é investir em uma geração mais forte – por dentro e por fora.