O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira que o governo brasileiro trabalha com a possibilidade de que a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros entre em vigor em 1º de agosto sem que haja recuo por parte de Washington. Apesar disso, reforçou que o Brasil seguirá tentando negociar a suspensão da medida.
Em entrevista à rádio CBN, Haddad declarou que o governo considera diversos cenários e mantém diálogo constante com autoridades americanas, embora ainda não tenha recebido resposta formal às duas cartas enviadas – a mais recente, na semana passada. Segundo o ministro, o país continuará engajado nas tratativas. “Não vamos sair da mesa de negociação”, garantiu.
Diante do impasse, o governo brasileiro estuda ações de contingência, inclusive o uso da lei da reciprocidade, que autoriza a adoção de medidas econômicas contra países que impõem barreiras comerciais de forma unilateral. Haddad destacou que o objetivo não é retaliar, mas mostrar que ações desse tipo são contraproducentes. Ele afirmou que a equipe econômica avalia os impactos de cada medida, com o cuidado de não prejudicar mais a economia brasileira do que ajudar.
O ministro também indicou que o governo poderá prestar apoio aos setores mais afetados e trabalha com alternativas para redirecionar parte das exportações atualmente voltadas aos EUA para outros mercados, embora isso demande tempo.
A ofensiva comercial americana se soma a um agravamento das tensões diplomáticas. No sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como “inaceitável” a decisão do governo Trump de revogar o visto de entrada nos EUA de autoridades brasileiras, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. A medida foi anunciada pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, após Moraes impor cautelares ao ex-presidente Jair Bolsonaro, como o uso de tornozeleira eletrônica.
Rubio justificou a ação afirmando que Trump busca responsabilizar estrangeiros que, segundo ele, censuram a liberdade de expressão protegida nos EUA. O próprio ex-presidente já havia vinculado a tarifa de 50% às investigações da Justiça brasileira contra Bolsonaro.
Em meio ao embate, a equipe econômica brasileira também voltou a discutir a criação de uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para taxar serviços digitais prestados por big techs, como alternativa diante da escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos.