A evolução dos meios de pagamento tem sido uma constante nos últimos anos, especialmente impulsionada pelo avanço das tecnologias e pelas mudanças nos hábitos dos consumidores. Vivemos hoje em um cenário no qual os pagamentos têm migrado para um formato híbrido, unindo alternativas físicas, como dinheiro em espécie e cartões, com soluções digitais, como carteiras virtuais e pagamentos por aproximação. Nesse contexto, o desafio para o varejo não está mais em simplesmente substituir os meios tradicionais pelos digitais, mas em diversificar e integrar essas opções para atender a diferentes perfis de consumidores.
De acordo com o Global Payments Report 2025, em 2014 o varejo físico nos pontos de venda (PDVs) era dominado por dinheiro e cartões, que representavam 97% das compras. Já no e-commerce, 34% das vendas utilizavam pagamentos digitais. No entanto, até 2024, essa configuração mudou drasticamente: os pagamentos digitais saltaram para 38% nos PDVs e 66% no comércio eletrônico. As projeções para 2030 indicam que, no e-commerce, 79% das transações serão feitas por meios digitais, enquanto o varejo físico verá esses pagamentos atingirem 53% do total.
Para o setor, o melhor meio de pagamento é aquele que atenda às preferências do consumidor sem ignorar os custos envolvidos para os varejistas, como as tarifas aplicadas a transações via PIX para pessoas jurídicas. Além disso, o papel dos cartões segue relevante, já que muitos consumidores priorizam essa forma de pagamento devido aos benefícios de programas de milhas, cashback e parcelamentos. No Brasil, essa última característica é especialmente importante, com práticas de parcelamentos que podem alcançar até 30 vezes.
Além dos avanços tecnológicos, fatores socioculturais também desempenham um papel determinante nessa transição. Em algumas regiões menos digitalizadas ou com infraestrutura limitada, o dinheiro em espécie permanece a solução mais acessível. Soma-se a isso a percepção por parte de muitas empresas – especialmente as de pequeno e médio porte – de que o dinheiro possibilita maior flexibilidade em negociações.
Além disso, em setores específicos, como o de jogos online, observam-se dinâmicas ainda mais particulares. Alguns perfis de jogadores, por exemplo, preferem realizar apostas utilizando moedas internacionais em vez da moeda local, seja por questões práticas ou para aproveitar melhor os mercados globais. Nesses casos, carteiras digitais têm se mostrado uma solução eficaz para realizar o câmbio de moedas, possibilitando que esses usuários tenham acesso a serviços em uma plataforma em dólar de cassino.
O papel do Banco Central e novos horizontes
Enquanto isso, o Banco Central segue impulsionando a modernização do sistema financeiro. Após o sucesso do PIX, o órgão lança agora iniciativas como o PIX Automático, o PIX Parcelado e até mesmo a emissão de garantias com base em recebíveis futuros. Outro projeto importante é o Drex, que visa criar uma moeda digital brasileira baseada no real. Esse tipo de inovação reflete uma tendência global na qual mais de 130 países já estudam ou implementam suas versões de moedas digitais.
De acordo com Luiz Fernando Lopes, gerente-executivo de Produtos Digitais da Tecban, ativos tokenizados e a digitalização de moedas podem representar cerca de 10% do PIB mundial até 2030, com um mercado movimentado por mais de 16 trilhões de dólares. Isso impactará setores diversos, como os de financiamento e imóveis, ao eliminar intermediários e possibilitar negociações mais rápidas e econômicas.
O caminho para um mercado mais híbrido
Ainda que o crescimento dos pagamentos digitais seja expressivo, não há expectativa de que eles eliminem completamente as formas tradicionais. É esperado, isso sim, um mercado cada vez mais híbrido, capaz de acomodar consumidores e negócios nos mais diversos cenários. Para o varejo, o desafio é se preparar não apenas para oferecer diferentes métodos de pagamento, mas também para enfrentar questões como segurança digital, comunicação eficiente e a capacitação de pequenos empreendedores.