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A “dança” dos dentes não para !

Apesar da inflexibilidade, o dente tem que ceder alguma coisa, pois recebe muitas forças mastigatórias e externas.

Fonte: Alberto Consolaro

A dança dos movimentos dentários naturais ocorre durante a vida toda
para compensar os desgastes em condições fisiológicas.

A ‘dança’ dos dentes não para!

A remodelação constante dá uma grande capacidade adaptativa aos ossos que são resilientes apesar da estrutura mineralizada. Parecem borrachas firmes e não pedras ou cristais. Osso é flexível e se todas as mentes fossem assim, o perdão seria moeda corrente entre nós.

Osso perdoa, esquece e não fica magoado. Ossos se remodelam em períodos de 5 a 10 anos. Alguém com 70, já teve 7 a 10 esqueletos, usando o outro como molde. A cobra poderia acumular seus couros que trocam, mas não podemos colecionar nossos esqueletos.

ESSES DENTES

Dentes se quebrarem, cariarem, mancharem ou reabsorverem, será para sempre. Ficam magoados a vida inteira, deixando marcas para um observador atento. Os dentes, apesar de toda rigidez, tem um mínimo de flexibilidade. O esmalte é a parte mais cristalina e inflexível do corpo. A dentina tem uma boa parte orgânica (40%) o que lhe dá uma certa flexibilidade.

Apesar da inflexibilidade, o dente tem que ceder alguma coisa, pois recebe muitas forças mastigatórias e externas. Tem que ter um pouco de adaptabilidade, mas se depender do esmalte e da dentina, será muito pouco.

Mas, revestindo as raízes, temos uma camada muito fina e muito importante, tipo camadas de tinta, que é o cemento. Metade é parte orgânica e a outra, de sais minerais. Ele liga e religa as fibras do amortecedor profissional de forças dos dentes ou ligamento periodontal. De um lado o cemento, do outro lado do amortecedor, o osso fasciculado que reveste a cavidade onde está o dente ou alvéolo.

Só o amortecedor periodontal, não conseguiria dar a flexibilidade que o dente precisa para viver harmoniosamente com os outros dentes e maxilares. O cemento precisa ajudar nesta função, e por isso, micrometricamente, vai depositando novas camadas na superfície ao longo da vida.

Isto dá uma maleabilidade aos dentes, colocando-os micrometricamente em novas posições conforme o osso vai se modificando na remodelação constante. Comparando a remodelação óssea com a capacidade de adaptação do cemento, seria o carro de Fórmula 1 e a bicicleta.

O osso se modifica ao redor do dente conforme a necessidade funcional. Os dentes têm que se adaptarem como se tivesses pés delicados de bailarinas, se escorregam ali, reinserem as fibras aqui, a espessura aumenta ali e se adapta à situação, e é o cemento que tem esta função.

MOVIMENTOS POS-ERUPTIVOS

Os dentes não são absolutamente impassíveis, inflexíveis e imutáveis. O cemento aumenta sua espessura micrometricamente todos os dias, a medida que aumenta a idade. Estamos falando de dentes de pessoas saudáveis.

O cemento compensa o desgaste ou atrição, que todos os dentes têm, minimamente, nas faces incisais e oclusais quando toca ou esfrega um com o outro. A altura e a largura dos dentes diminuem no tempo que vivemos.

Precisamos manter a altura da face ou dimensão vertical. O ápice da raiz com o tempo fica com a forma arredondada, mas no início eram triangulares. A remodelação do amortecedor periodontal ajuda o cemento nisto, É como se os dentes dançassem uma lenta e macia valsa nos palcos maxilares.

REFLEXÃO FINAL

Até 30 anos, a linha entre coroa e raiz, a junção amelocementária e suas janelas de dentina, estão recobertas pelo conjuntivo gengival. Depois dos 30, estão recobertos pelo epitélio juncional ou expostas no sulco gengival pelo movimento axial a cada dia.

Isto explica por que a Reabsorção Cervical Externa ocorre mais nos jovens, quando o traumatismo dentário e a inflamação induzida expõe as janelas de dentina por dissolverem a matriz extracelular que as protegiam, atraindo os clastos e iniciando-se este tipo específico de reabsorção.

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)

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