
A revolução digital chegou à advocacia. O avanço das tecnologias vem transformando profundamente a forma como exercemos nossa profissão, acessamos a Justiça e interagimos com o mundo jurídico. Diante do aprofundamento da gestão eletrônica de processos, a automação de documentos, jurimetria, blockchain, visual law e plataformas de resolução de conflitos online, as novas tecnologias estão moldando o cotidiano de advogados, escritórios, tribunais e universidades.
Diante desse cenário, participar do XXXII Congresso Nacional do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito, em São Paulo, representa uma oportunidade de reafirmar o protagonismo da advocacia maranhense em um debate que não pode mais ser adiado: “Advocacia na era digital: impactos das novas tecnologias e a redefinição do sucesso no direito”, fruto de nossas pesquisas e da vivência prática no cotidiano jurídico.
O advogado de hoje precisa ir além da técnica, dos detalhes processuais, das teses inovadoras e do domínio da lei. O advogado contemporâneo precisa compreender e gerenciar dados, linguagens digitais, as novas dinâmicas sociais e operar ferramentas tecnológicas com discernimento a ponto de traduzi-las em soluções jurídicas acessíveis, humanas e eficazes.
Não temos dúvida de que a tecnologia é uma aliada poderosa, mas jamais substituirá o papel do advogado na busca pela justiça. Nenhum algoritmo é capaz de reproduzir a empatia, o senso ético e o compromisso com a dignidade humana que definem a advocacia. É o advogado que compreende o contexto, acolhe o cidadão e traduz o conflito em justiça.
Por isso, defendemos que o avanço tecnológico precisa ser acompanhado por uma firme consciência ética. Cabe a nós, advogados e advogadas, sermos os guardiões desse equilíbrio. Devemos assegurar que a digitalização dos processos e a automatização das rotinas caminhem lado a lado com o respeito à pessoa humana, à Constituição e aos princípios que sustentam o Estado Democrático de Direito.
Ademais, as faculdades de Direito ainda insistem em modelos analógicos que não dialogam com a realidade tecnológica em que vivemos. Nesse cenário, é essencial repensar a formação jurídica da advocacia, pois os novos tempos exigem profissionais com pensamento crítico, sensibilidade social e domínio das ferramentas que hoje definem a economia, a comunicação e o próprio acesso à informação. A atualização teórica dos advogados exige o contato com formação sobre ética digital, proteção de dados, governança tecnológica e novas formas de mediação e resolução de conflitos, que têm sido objeto de preocupação e incentivo pela OAB/MA, por meio da Escola Superior da Advocacia, na gestão do presidente Kaio Saraiva.
Essa transformação exige, ainda, uma nova compreensão de sucesso profissional. O êxito do advogado não se mede mais apenas pelo número de clientes ou pelo valor dos honorários advocatícios. O verdadeiro sucesso está em gerar impacto positivo, em promover uma advocacia mais eficiente, inclusiva e comprometida com a cidadania. O advogado bem-sucedido será aquele que conseguir unir o conhecimento técnico à capacidade de inovar, sem perder o compromisso com o ser humano, em face da robotização da pós-modernidade.
Ao levarmos esse debate ao Conpedi, reafirmamos o compromisso da advocacia maranhense com o futuro da profissão e com a construção de uma nova cultura jurídica no país, permitindo à advocacia concentrar-se na construção de estratégia, do raciocínio, da criatividade e da defesa de pessoas e ideias.
Nesse processo de transformação, a OAB/MA tem papel central na formação e atualização da classe, estimulando a inovação sem renunciar à ética e à defesa das prerrogativas. É tempo de unir tradição e modernidade, reafirmando que a advocacia maranhense seguirá sendo protagonista na construção de um sistema de justiça que promova a inovação tecnológica como instrumento de justiça, da dignidade da pessoa humana e fortalecimento do Estado Democrático de Direito.
Texto: Eudes Vitor Bezerra (advogado e professor); Dennys Damião Rodrigues Albino(advogado e professor); Marcos Caminha (advogado, professor e Conselheiro da OAB/MA)