
A Justiça do Pará converteu, nesta segunda-feira (17), a prisão em flagrante de José Antônio das Virgens, o Toninho da Mineira, em prisão preventiva. Ele é suspeito de envolvimento no sequestro e assassinato do empresário Sebastião Divino dos Reis e do advogado Daniel Teodoro dos Reis, filho de Sebastião. Na decisão, proferida em audiência de custódia, o juiz João Paulo Pereira de Araújo apontou “gravidade concreta” do crime, risco social, “periculosidade concreta” do custodiado e ameaça à instrução criminal como fundamentos para mantê-lo preso.
De acordo com as investigações, Toninho, Sebastião e o produtor rural Josias Demetrius de Oliveira mantinham fazendas próximas e se conheciam há anos. A Polícia Civil apura se uma disputa em torno de uma multa ambiental de R$ 2,7 milhões, aplicada pelo ICMBio por desmatamento ilegal na região da Terra do Meio, pode ter sido o estopim da tragédia. A autuação foi atribuída inicialmente a Josias, que contratou Daniel para defendê-lo no processo administrativo.
Nos autos e em depoimentos colhidos pela polícia, consta que o advogado conseguiu provar que a área desmatada não pertencia a Josias, mas a outra fazenda da região — justamente a de José Antônio. O próprio Toninho reconhece a propriedade da terra em um termo de responsabilidade assinado em janeiro de 2024. Com a retificação, ele passou a ser o responsável pela multa milionária, o que teria provocado forte desavença com Daniel e com a família do advogado.
A principal linha de investigação considera que essa disputa ambiental possa ter motivado o sequestro e a morte de pai e filho, embora a Polícia Civil ressalte que a hipótese ainda está em apuração, sem conclusão formal.
Noite de horror na fazenda
Sebastião e Daniel desapareceram na madrugada de sexta-feira (14) para sábado, após serem sequestrados na fazenda da família, em São Félix do Xingu. Os corpos foram localizados no sábado (15) em uma área de difícil acesso, em um ramal da vicinal Pontalina, a cerca de 200 quilômetros da sede do município.
Segundo relatório da Polícia Civil, três homens encapuzados invadiram a propriedade por volta das 20h de sexta. Armados, renderam Daniel, o irmão Marcelo, a empregada Andreia e o patriarca Sebastião. O grupo afirmou inicialmente que queria apenas a caminhonete da família, mas levou pai e filho em dois veículos: a L200 Triton das vítimas e uma caminhonete branca, modelo 2024, usada pelos suspeitos.
Marcelo e Andreia foram abandonados amarrados a cerca de 13 quilômetros da fazenda. Na manhã seguinte, surgiram relatos sobre dois corpos encontrados em um ramal da via Pontalina. A identificação confirmou que se tratava de Sebastião e Daniel. O velório dos dois ocorreu nesta segunda-feira no Sindicato Rural de São Félix do Xingu.
Rota dos suspeitos e indícios de participação
A polícia reuniu imagens de câmeras de segurança e registros de pedágios para reconstruir o trajeto dos suspeitos. Uma caminhonete compatível com a usada no crime foi registrada em direção à fazenda às 17h21 e retornando às 21h03, desta vez acompanhada da caminhonete da família.
Já à meia-noite de sábado (15), o pedágio da Estrada do Triunfo registrou a passagem de uma caminhonete branca conduzida por José Antônio das Virgens. O veículo foi posteriormente abordado pelo Batalhão Ambiental. Dentro estavam o suspeito e dois homens ainda não identificados, um deles descrito como “bem jovem”, compatível com o perfil relatado pelas vítimas sobreviventes.
Para os investigadores, a combinação de horários, trajetos, depoimentos e circunstâncias sugere participação direta de Toninho da Mineira no crime, seja como um dos executores, seja como possível mandante. O caso é tratado nos relatórios policiais como uma “execução”.
Na decisão que converteu o flagrante em prisão preventiva, o juiz destacou que o modus operandi — invasão armada, rendição de quatro pessoas, sequestro em duas caminhonetes e posterior execução — evidencia “frieza, crueldade e ousadia”. Para o magistrado, os indícios reunidos até o momento revelam “periculosidade concreta” do investigado e tornam inadequadas medidas cautelares alternativas. Ele também ressaltou o risco às testemunhas sobreviventes, que foram vítimas diretas da ação e vivem na mesma região do suspeito.
A Polícia Civil segue na busca pela identificação e prisão dos outros envolvidos no sequestro e no duplo homicídio.
OAB-PA cobra rigor e acompanha o caso
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará (OAB-PA) divulgou nota de pesar lamentando o assassinato de Daniel e de seu pai. Daniel era casado com a também advogada Mariana Maia, e a entidade afirma estar acompanhando o caso desde o início.
Segundo a nota, o presidente da OAB-PA, Sávio Barreto, manteve contato direto com o Delegado-Geral da Polícia Civil para cobrar “atenção especial, celeridade e rigor” nas investigações. O presidente da subseção local, Raudeyck Bessa, também acompanha os desdobramentos junto às autoridades.
A Ordem declarou estar à disposição da família e reforçou que seguirá cobrando solução para o caso “em defesa da advocacia e da sociedade”. “Neste momento de profunda dor, prestamos nossa solidariedade à família, aos amigos e à comunidade jurídica, desejando força diante desta perda irreparável”, diz o texto.