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Apostas online avançam entre famílias de baixa renda e entram no radar de órgãos de controle

O tema passou a integrar a agenda de fiscalização por envolver simultaneamente política social, sistema financeiro e prevenção a ilícitos

Fonte: Da redação

Dados recentes do Tribunal de Contas da União (TCU) indicam que beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3,7 bilhões para sites de apostas online, valor equivalente a cerca de 27% do total pago pelo programa no mês. O levantamento aponta que 4,4 milhões de famílias tiveram ao menos um integrante realizando apostas no período, o que representa mais de um quinto do universo de lares atendidos.

A análise do TCU identificou concentração relevante das apostas. Segundo o órgão, 889 mil famílias responderam por aproximadamente 78% do volume total transferido às plataformas. Em parte dos casos, as movimentações financeiras observadas são consideradas incompatíveis com o perfil de renda dos beneficiários, com registros de transferências que chegaram a até R$ 2 milhões em um único mês, o que levantou suspeitas de uso indevido de CPFs em esquemas de fraude.

Além do impacto direto sobre o orçamento doméstico, o relatório aponta riscos associados à exploração da vulnerabilidade financeira. As plataformas de apostas operam por meio de aplicativos de fácil acesso, com estímulos constantes e ofertas de bônus, o que amplia a exposição ao jogo entre pessoas de baixa renda. O TCU avalia que esse contexto favorece tanto o comprometimento de recursos destinados a despesas básicas quanto práticas ilegais, como lavagem de dinheiro, aluguel de CPFs e uso de contas de beneficiários como intermediárias em operações financeiras.

No recorte social, o levantamento identificou pouco mais de 770 famílias com indícios de comprometimento de necessidades básicas e cerca de 23 mil em início de endividamento associado às apostas. O próprio tribunal ressalta que esses números refletem apenas os casos detectáveis a partir de bases administrativas e que podem não capturar a totalidade dos efeitos, dada a possibilidade de subnotificação e de impactos ainda não formalizados em sistemas oficiais.

Diante do cenário, o governo federal anunciou medidas para restringir o acesso de beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) a plataformas de apostas autorizadas. A regra previa impedir novos cadastros, mas a implementação foi adiada após pedidos de prazo por parte das empresas do setor. Em paralelo, o Banco Central disponibilizou ferramentas como o BC Protege+, que permite bloquear a abertura de contas sem autorização do titular, e o governo informou que prepara uma plataforma nacional para possibilitar o bloqueio do CPF em aplicativos de apostas.

O avanço das apostas online também gerou debates internos no governo. Projetos envolvendo a entrada de estatais no mercado de apostas foram revistos, e iniciativas chegaram a ser vetadas após questionamentos sobre o impacto social da atividade. Enquanto isso, órgãos de controle seguem monitorando o fluxo de recursos, a conformidade das plataformas e o cumprimento das exigências regulatórias.

O tema passou a integrar a agenda de fiscalização por envolver simultaneamente política social, sistema financeiro e prevenção a ilícitos. Para o TCU, a combinação de acesso facilitado, publicidade intensa e fragilidade econômica cria um ambiente de risco elevado, com efeitos que extrapolam o entretenimento e alcançam a gestão do benefício e a proteção de dados pessoais de milhões de famílias.

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