Embora o tema das finanças pessoais esteja cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros, a maior parte da população ainda enfrenta dificuldades para administrar o próprio orçamento. Dados da 17ª edição do Observatório Febraban indicam que 55% dos entrevistados afirmam entender pouco ou nada de educação financeira, sendo 40% com baixo entendimento e 15% sem qualquer conhecimento sobre o assunto. Ao mesmo tempo, 75% dizem dar muita ou alguma atenção ao controle do dinheiro, evidenciando uma distância entre interesse e capacidade prática de gestão financeira.
Esse descompasso se reflete diretamente no orçamento doméstico, sobretudo em um contexto de renda pressionada e custo de vida elevado. Pequenas decisões cotidianas, quando tomadas sem planejamento, tendem a se acumular e resultar em atrasos, endividamento e dificuldade de organização financeira. Segundo especialistas, a falta de clareza sobre ganhos, gastos e compromissos financeiros está entre os principais fatores que levam famílias a perder o controle das contas.
Para Camila Poltronieri Flaquer, Head de Cobrança Digital (B2C) da Recovery, o ponto central da educação financeira está menos em técnicas complexas e mais na compreensão da própria realidade financeira. De acordo com ela, identificar quanto se ganha, quanto se gasta e quais ajustes são possíveis permite decisões mais conscientes e planejamento mais consistente ao longo do tempo.
Entre as práticas mais citadas por especialistas está a necessidade de mapear todas as receitas e despesas, incluindo gastos fixos e custos menores do dia a dia, que costumam passar despercebidos, mas têm impacto relevante no fechamento do mês. O controle detalhado permite identificar se o orçamento opera com saldo positivo ou negativo e ajuda a definir prioridades.
Outro ponto recorrente é a organização das dívidas. O cartão de crédito aparece como um dos principais fatores de endividamento, especialmente quando associado ao crédito rotativo ou ao parcelamento prolongado. O cheque especial, com juros elevados, e empréstimos pessoais também contribuem para a pressão financeira quando utilizados sem planejamento. O levantamento e a compreensão do valor total das dívidas, incluindo juros e prazos, são apontados como etapas essenciais para qualquer estratégia de reorganização.
A reorganização financeira costuma envolver ainda decisões estruturais, como a revisão de hábitos de consumo, a avaliação da manutenção de bens que geram despesas recorrentes e a busca por fontes complementares de renda. Especialistas destacam que pequenas quantias adicionais ou cortes pontuais de gastos podem ter efeito significativo quando direcionados ao pagamento de dívidas ou à formação de uma reserva financeira.
A construção de uma reserva de emergência é citada como instrumento para reduzir a vulnerabilidade diante de imprevistos. Mesmo aportes modestos, mantidos com regularidade, podem evitar o recurso a crédito caro em situações inesperadas. Paralelamente, o uso consciente do crédito, com redução do número de cartões e controle das compras parceladas, aparece como medida preventiva contra novos ciclos de endividamento.
O diagnóstico apresentado por pesquisas e por profissionais do setor indica que a educação financeira segue como um desafio estrutural no país. Apesar do aumento do interesse pelo tema, a dificuldade de transformar informação em prática continua impactando o planejamento das famílias, especialmente entre aquelas com menor margem de renda.