Com o avanço do calendário eleitoral e a aproximação das eleições de 2026, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve enfrentar uma ampla reformulação ministerial no primeiro semestre do próximo ano. A estimativa de integrantes do Palácio do Planalto é que ao menos 20 ministros deixem seus cargos até abril, prazo final para a desincompatibilização exigida pela legislação eleitoral.
A reorganização da Esplanada já está em curso e tende a se intensificar nos próximos meses, impulsionada tanto por exigências legais quanto por decisões estratégicas do governo para a formação de palanques competitivos em estados considerados prioritários. A recente nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é vista internamente como um dos primeiros movimentos desse processo.
Durante a última reunião ministerial, Lula afirmou que pretende se reunir individualmente com os auxiliares interessados em disputar cargos eletivos para discutir a estratégia eleitoral de 2026. Segundo relatos de participantes, o presidente sinalizou que não pretende impedir a saída de ministros, mas destacou que também não irá impor candidaturas.
Entre os nomes cotados para deixar o governo está o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De acordo com fontes do Palácio, ele já manifestou a intenção de se desligar do cargo até fevereiro. Haddad é pressionado por aliados a disputar o governo de São Paulo ou uma vaga no Senado, como forma de fortalecer o palanque presidencial no estado. Também há expectativa de que ele atue na coordenação da campanha de Lula, além de ser visto como um quadro estratégico em eventuais rearranjos políticos futuros. O nome mais citado para substituí-lo na Fazenda é o do atual secretário-executivo, Dario Durigan.
Outro nome central nas articulações é o do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Alckmin é citado como possível candidato à reeleição na vice-Presidência ou como postulante ao governo de São Paulo. Lula declarou que ainda pretende conversar com Haddad e Alckmin para definir seus caminhos eleitorais, ressaltando a necessidade de lançar candidaturas fortes tanto ao governo estadual quanto ao Senado paulista.
No campo das mudanças já anunciadas, o presidente confirmou a saída do então ministro do Turismo, Celso Sabino. Ele será substituído por Gustavo Damião, ex-secretário de Turismo da Paraíba e filho do deputado federal Damião Feliciano, do União Brasil. A troca foi interpretada por integrantes do governo como um gesto pragmático diante da pressão para que partidos do centro definam com maior clareza seu alinhamento eleitoral.
Sabino havia sido expulso do União Brasil após descumprir orientação da direção partidária para deixar o ministério. Deputado federal pelo Pará e pré-candidato ao Senado, ele solicitou permanecer no cargo até o encerramento da COP30, pedido que não foi atendido. Com a mudança, o Planalto avalia preservar o apoio de ao menos parte da bancada do União Brasil na Câmara, ainda que reconheça dificuldades na fidelidade do grupo.
Além dessas alterações, outros ministros também avaliam deixar seus cargos para disputar eleições. Estão entre os cotados ao Senado nomes como Anielle Franco, Marina Silva, Alexandre Silveira, Carlos Fávaro, Silvio Costa Filho, Rui Costa, André Fufuca e o próprio Celso Sabino. Para a Câmara dos Deputados, são mencionados ministros como Luiz Marinho, Wolney Queiroz, Sônia Guajajara, André de Paula, Paulo Teixeira, Jader Filho e Gleisi Hoffmann.
O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Sidônio Palmeira, também precisará deixar o cargo caso repita o papel de marqueteiro da campanha presidencial, função que exerceu em 2022. Em regra, a tendência no governo é que os secretários-executivos assumam interinamente os ministérios vagos, numa tentativa de reduzir impactos administrativos durante o período de transição.
Os auxiliares interessados em disputar cargos eletivos têm até 6 de abril para deixar oficialmente suas funções, conforme determina a Lei Complementar nº 64/1990, que estabelece regras de desincompatibilização para evitar o uso da máquina pública em benefício eleitoral. Durante a reunião ministerial, Lula incentivou seus auxiliares a se lançarem candidatos, sobretudo em estados estratégicos como São Paulo e Minas Gerais, considerados decisivos para o projeto político do governo em 2026.
20 ministros devem deixar o governo até abril; veja quem são
Simone Tebet (Planejamento)
André Fufuca (Esportes)
Jader Filho (Cidades)
Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos)
Renan Filho (Transportes)
Waldez Góes (Desenvolvimento Regional)
Márcio França (Empreendedorismo)
Alexandre Silveira (Minas e Energia)
Carlos Fávaro (Agricultura)
Luiz Marinho
Wolney Queiroz
André de Paula (Pesca)
Marina Silva (Meio Ambiente)
Rui Costa (Casa Civil)
Camilo Santana (Educação)
Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário)
Sônia Guajajara (Povos Indígenas)
Anielle Franco (Igualdade Racial)
Macaé Evaristo (Cultura)