Há 11 anos, Décio Sá foi assassinado a tiros em um bar, na Avenida Litorânea

Jornalista foi abatido à queima-roupa com seis disparos de pistola ponto 40.

Fonte: Manoel Santos Neto

Na noite de 23 de abril de 2012, o jornalista Aldenísio Décio Leite de Sá, conhecido como Décio Sá, blogueiro e repórter de política do jornal O Estado do Maranhão, saiu da redação pouco depois das 22h30 e dirigiu-se, de carro, ao bar e restaurante Estrela do Mar, na Avenida Litorânea, disposto a degustar uma caranguejada, iguaria típica maranhense.

Cerca de uma hora depois, Décio Sá estava estendido no chão, entre as mesas do estabelecimento, abatido à queima-roupa com seis tiros de pistola ponto 40. O crime teve enorme repercussão nacional e internacional e, passados menos de dois meses, em 13 de junho, a Polícia Civil do Maranhão deflagrou a “Operação Detonando”. Foram presos dois acusados como mandantes – os agiotas Gláucio Alencar Pontes de Carvalho, então com 35 anos, e seu pai José de Alencar Miranda Carvalho, então com 73 (já falecido).

Eles teriam, segundo a polícia, mandado matar Décio porque o jornalista havia feito publicações em seu blog sobre a prática de agiotagem envolvendo Gláucio, Miranda e prefeituras do estado.

Preso em 27 de dezembro de 2015 no Presídio São Luís 3 (PSL 3), de segurança máxima, na Vila Maruaí (próximo ao Complexo Penitenciário de Pedrinhas), Gláucio Alencar ficou numa cela de 2m por 3m, em isolamento quase completo, segundo familiares.

Gláucio, que chegou a passar pela cadeia do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, no Calhau, e pela prisão do Quartel do Corpo de Bombeiros, no Bacanga, sempre negou envolvimento com o assassinato de Décio Sá.

Em entrevista exclusiva ao JP, publicada em janeiro de 2013, Gláucio apontou a família Telles, de Barra do Corda, como uma “lacuna” na investigação da polícia e do Ministério Público do Maranhão sobre o assassinato.

Postagens de Décio sobre outros crimes envolvendo a família – especialmente Pedro Telles, também supostamente ligado a agiotagem – teriam motivado o homicídio.

O secretário de Segurança Pública da época, Aluísio Mendes (atual deputado federal), refutou a afirmação de Gláucio e disse que “todas as linhas de investigação do caso Décio foram apuradas”, inclusive a que levava a Barra do Corda.

O assassino confesso de Décio, o pistoleiro paraense Jhonathan de Sousa Silva, então com 24 anos, foi preso dias antes da “Detonando”, em 5 de junho, por tráfico de drogas, e acabou confessando o assassinato do jornalista.

Jhonathan, atualmente, está no mesmo presídio que abrigava Gláucio Alencar, o PSL 3, depois de passar por um presídio federal, em Campo Grande (MS).

Acusado de ser o intermediário que contratou o matador, o ex-empresário do ramo de automóveis e ex-representante comercial de bebidas José Raimundo Sales Chaves Júnior, o “Júnior Bolinha”, então com 38 anos, também foi preso na “Operação Detonando”.

Em entrevista ao JP, publicada em julho de 2013, “Bolinha” envolveu no crime um grande empreiteiro maranhense, que estaria incomodado com postagens no “Blog do Décio” sobre megaprojetos imobiliários que afrontavam as leis ambientais.

O Grupo de Atuação Especial de Combate a Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público, investigou a versão, mas concluiu que ela não se sustentava em fatos concretos.

SETE ACUSADOS FORAM DESPRONUNCIADOS

Dos 12 indiciados pelo homicídio, 7 já foram despronunciados pela Justiça maranhense (ou seja, não vão a julgamento), e apenas Jhonathan Silva e Marcos Bruno Silva de Oliveira (acusado de ser o “piloto de fuga” do pistoleiro Jhonathan) enfrentaram o Tribunal do Júri, até agora.

Jhonathan foi condenado a 25 anos e três meses em fevereiro de 2014. Marcos Bruno pegou 18 anos e três meses (mesma pena em dois julgamentos, em fevereiro de 2014 e abril de 2016).

Além de Gláucio, José Miranda, Jhonathan, “Júnior Bolinha” e Marcos Bruno, foram presos e indiciados por envolvimento no assassinato: Fábio Aurélio Saraiva Silva, o “Fábio Capita” (capitão da Polícia Militar do Maranhão, ex-comandante do Batalhão de Choque da corporação, seria o dono da pistola usada no crime; despronunciado pela Justiça maranhense por falta de provas); Ronaldo Henrique Santos Ribeiro (advogado, seria o “braço jurídico” de agiotas maranhenses; também despronunciado); Fábio Aurélio do Lago e Silva, o “Buchecha” (preso na “Detonando”; despronunciado); Alcides Nunes da Silva e Joel Durans Medeiros (investigadores da Seic; dariam suporte informal aos suspeitos de agiotagem Gláucio Alencar e José Miranda; ambos despronunciados); Elker Farias Veloso (supostamente deu apoio logístico no assassinato; está preso em Minas Gerais por outro crime; despronunciado); Shirliano Graciano de Oliveira, o “Balão” (supostamente deu apoio logístico no assassinato; nunca foi preso; despronunciado).

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