“Você já começou a investir para garantir a sua aposentadoria no futuro?” Questionamentos como esse ganharam força nas redes sociais na última semana após um estudo do Banco Mundial levantar temores em relação ao sistema previdenciário brasileiro. A pesquisa sugere que, mesmo com as alterações feitas pela reforma da previdência de 2019, serão necessários novos ajustes nas regras de concessão de aposentadorias.
Se nenhuma mudança for feita, o Brasil teria de aumentar a idade mínima para se aposentar para 72 anos, em 2040, e para 78 anos, em 2060, segundo os cálculos do Banco Mundial. Essa medida seria necessária para manter a razão de dependência dos idosos (proporção entre a população com mais de 65 anos e a com 20 a 64 anos) no mesmo nível de 2020, ano posterior à reforma da previdência.
Considerando o estado de saúde dos brasileiros e as diferentes realidades sociopolíticas, ajustes tão drásticos na aposentadoria por idade seriam difíceis de se alcançar. “Portanto, um conjunto mais diversificado de reformas precisa ser considerado, tendo em mente a progressividade e a equidade do sistema previdenciário”, reforçam Asta Zviniene e Raquel Tsukada, autores do estudo do Banco Mundial.
Atualmente, a idade mínima para aposentadoria por idade é de 65 anos para homens e de 62 anos para mulheres, com pelo menos 15 anos de contribuição em ambos os casos. Mas existem outras regras para se aposentar, como o sistema de pontos ou a alternativa da idade mínima progressiva.
Por que a idade mínima para a aposentadoria pode mudar?
Na análise do Banco Mundial, o principal fator que exige mudanças nas regras da aposentadoria brasileira daqui para frente diz respeito ao ritmo de envelhecimento mais rápido da população. Se nos países de alta renda a razão de dependência dos idosos levou 62 anos para dobrar, aqui isso aconteceria em bem menos tempo: 23 anos.
Alexandre Espirito Santo, coordenador de economia e finanças da ESPM e economista da Way Investimentos, explica que, conforme a expectativa de vida aumenta no País e a taxa de natalidade cai, a pirâmide etária fica desfavorável para o sistema previdenciário, já que há menos trabalhadores ativos contribuindo para o regime. “Em outras palavras, daqui a alguns anos, teremos mais pessoas aposentadas do que trabalhadores ativos, a conta não vai fechar”, afirma.
Além do envelhecimento rápido da população brasileira, Jorge Boucinhas, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), aponta uma outra causa para o déficit previdenciário do Brasil: o fenômeno da “pejotização”, que se intensificou a partir da reforma trabalhista de 2017.
Essa prática ocorre quando trabalhadores que atuam de modo similar a pessoas físicas são contratados como pessoa jurídica (PJ). Ao optar por esse modelo, eles deixam de ter os direitos e deveres previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o amparo legal dessa legislação. Por outro lado, aproveitam uma relativa redução da carga tributária.
A “pejotização”, dessa forma, tem alterado as contribuições previdenciárias, pois no regime de pessoa jurídica não há recolhimento ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “Essa projeção um tanto quanto alarmante do Banco Mundial pode ser antecipada se a ‘pejotização’ no Brasil continuar aumentando. Então, é possível que esses números sejam até otimistas porque eles ignoram esse movimento”, alerta Boucinhas, da FGV EAESP.
O professor destaca ainda que um aumento elevado da idade mínima para se aposentar traria consequências sérias do ponto de vista humanitário. “Há profissionais intelectuais que podem chegar aos 70 ou 72 anos de idade trabalhando. Mas nem todos conseguem isso. Ao reduzir a idade mínima para aposentadoria, trabalhadores impossibilitados de se aposentar podem ficar em desalento total”.
As melhores estratégias para se aposentar com conforto
Uma das alternativas mais recomendadas para juntar dinheiro para a aposentadoria consiste em construir uma carteira de investimentos diversificada. No mercado, não faltam opções de renda fixa ou de renda variável que atendam a diferentes perfis de investidores, seja os mais arrojados ou conservadores. Por meio delas, é possível acumular uma reserva própria, sem depender do Estado.
Além disso, existe a previdência privada, opção de investimento voltada para quem objetivos de longo prazo, que também pode ser utilizada para garantir uma renda mensal durante a aposentadoria. Nesse caso, diferentemente dos sistemas públicos, o dinheiro fica sob o controle do próprio investidor, apesar de ser administrado pelo setor privado.
1 – Comece o quanto antes a investir na aposentadoria
Iniciar o mais rápido possível é crucial quando se pensa em investimentos para a aposentadoria. Muitos podem pensar que, por ser um objetivo de longo prazo, vale postergá-lo por mais alguns anos. Essa, no entanto, não é a visão de profissionais do mercado financeiro. “A fórmula dos juros compostos demonstra que, quanto mais cedo se começa a investir, maior é o potencial de acumulação de patrimônio ao longo do tempo. Muitos dos maiores investidores costumam dizer que gostariam de ter começado a investir antes, justamente para aproveitar melhor esse crescimento”, diz Leuzinger, do Grupo Fractal.
Vale lembrar que os juros compostos são os famosos “juros sobre juros”. Nos investimentos, com o tempo favorável, eles são capazes de multiplicar por diversas vezes seus rendimentos. Diferente dos juros simples, que levam em conta apenas o capital inicial, um investimento com rentabilidade calculada a partir dos compostos considera o valor total investido somado à aplicação dos juros acumulados no período.
Para mostrar como o tempo é um grande aliado na hora investir, vamos tomar como exemplo uma pessoa que deseja alcançar R$ 2 milhões aos 65 anos com rentabilidade projetada de 6% ao ano. Se o investidor iniciasse a aplicação aos 25 anos, ele precisaria investir mensalmente R$ 1.048,40 para atingir o seu objetivo. Já se começasse aos 45 anos, deveria aplicar uma quantia bem superior, de R$ 4.410,74 mensais
Até mesmo os mais jovens, que ainda estão no ensino médio, já podem começar a planejar a aposentadoria, ainda que não invistam diretamente. Depois, quando ingressarem no mercado de trabalho e receberem seu primeiro salário, o aconselhado é começar a deixar uma fatia reservada para investimentos.
2 – Calcule a renda necessária na aposentadoria
O precisa ter em mente que não deve ser considerada a inflação na conta. “Sempre que se vai projetar uma rentabilidade no longo prazo, deve-se considerar apenas o valor de juros reais que se espera receber”, recomenda Marcos Milan, professor da FIA Business School.
O passo seguinte consiste em calcular a quantia necessária para um padrão de vida considerado ideal nos valores de hoje. Vamos supor que esse valor corresponda a R$ 100 mil anualmente e que os juros reais desse investimento sejam de 3,5% ao ano. “Temos agora a seguinte situação: eu preciso saber qual valor eu devo acumular para que, rendendo 3,5% ao ano em juros reais, eu consiga uma rentabilidade de R$ 100 mil. Para chegar a esse montante, basta dividir os R$ 100 mil por 3,5%. Nesse caso, chegamos a um montante aproximado de R$ 2,9 milhões”.
Na hora de estimar a quantia necessária para uma vida confortável, o investidor precisa considerar quais despesas são essenciais, abrangendo não apenas necessidades básicas como alimentação e moradia, mas também aspectos de lazer e qualidade de vida. Não adianta nada estipular um valor muito baixo sem assegurar o bem-estar.
3 – Leve em conta o seu perfil de investidor
Na hora de montar a carteira, vale considerar o seu perfil de investidor. De forma geral, existem três tipos:
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- Conservador: costuma ser mais avesso ao risco, optando por carteiras com maior previsibilidade de retorno;
- Moderado: está disposto a assumir um risco maior, mas não tem tanta tolerância como um perfil arrojado;
- Arrojado: procura retornos potenciais acima da média, mesmo que se submeta a mais oscilações no curto prazo.
Milan, da FIA Business School, defende não tanto a definição de ativos específicos, mas sim estimativas de exposição para cada uma das classes de investidor. “Estamos em um País onde a renda fixa impera, entregando excelentes resultados historicamente. Na mesma linha, eu defendo que qualquer perfil deve ter uma carteira bastante capilarizada, com o objetivo de reduzir o risco”.
Confira abaixo as porcentagens de exposição em renda variável recomendadas pelo professor:
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- Conservador: até 5% de renda variável na carteira;
- Moderado: até 10% de renda variável na carteira;
- Arrojado: a partir de 10% de renda variável na carteira.
Quando o assunto são fundos de investimento, Leuzinger, do Grupo Fracta, aconselha investidores mais conservadores a escolherem opções com menos oscilações e retornos mais previsíveis, como os que investem em títulos públicos do Tesouro Direto ou em produtos bancários.Já o investidor moderado, que consegue suportar uma volatilidade média, pode optar por fundos mais complexos, como multimercados ou ações, ainda que em menor proporção. “Mesmo nesse caso, vale manter sempre a diversificação e possuir parte em ativos mais seguros”, afirma.
Para quem tem o perfil arrojado, entende e aceita a volatilidade, buscando maiores retornos por meio de estratégias que envolvem maiores riscos, pode diversificar seus investimentos entre fundos de ações e crédito privado, por exemplo.
4 – Considere investir na previdência privada
Para complementar a aposentadoria recebida do INSS, também vale investir na previdência privada. Existem dois modelos: o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) ou Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL).
Ao investir no PGBL, o contribuinte pode deduzir até 12% da renda tributável anual no Imposto de Renda (IR) ao optar pela declaração completa. “Qualquer valor aplicado acima dos 12% da renda bruta anual pode ser considerado um investimento ineficiente visto que o teto que a legislação considera como válido para abatimento é justamente esses 12%”.
Já o VGBL é o plano de previdência privada criado para alcançar a população de renda mais baixa ou que está no início da vida profissional. A modalidade foi criada depois do PGBL, com foco em quem é isento do IR ou usa o modelo simplificado para realizar a declaração. Isso porque ela não oferece o benefício da dedução do tributo da base de cálculo do imposto. Porém, no momento do resgate do investimento, o tributo será cobrado somente sobre os rendimentos, e não sobre o total acumulado.
Além da importância para o planejamento tributário, a previdência privada também ajuda a organizar a sucessão patrimonial. “Ela funciona como uma ferramenta nesse sentido por ser um dinheiro que é livre de inventário e no caso de morte do investidor, seus sucessores definidos na contratação da previdência têm acesso ao dinheiro”, explica Milan, da FIA Business School.
5 – Tenha sempre uma carteira diversificada
Além das opções citadas acima, vale pensar em outros ativos para garantir uma carteira diversificada para a aposentadoria. Isso inclui ações e fundos de investimento imobiliário (FIIs), alternativas recomendadas para quem deseja fazer o “dinheiro trabalhar por contra própria” a partir da distribuição de dividendos. Conforme explicamos nesta reportagem, os FIIs podem ser uma opção interessante para quem deseja se arriscar mais e conquistar um renda passiva. Por lei, esses fundos são obrigados a repassar, no final de cada semestre, pelo menos 95% do lucro apurado no período aos cotistas.
No entanto, que é preciso ter cuidado ao investir nos FIIs, porque as cotas são negociadas na Bolsa, então o volume de negociação e os ruídos de mercado podem ter forte influência nos preços. Outro recomendação é não se iludir com grandes retornos e entender o caminho do dinheiro. Ou seja, reconhecer os motivos que levaram determinado fundo a conseguir um alto rendimento e verificar se esse pagamento pode ser recorrente ou não. Nesta matéria, trazemos casos recentes de inadimplência envolvendo fundos imobiliários e mostramos como se precaver.
Já para quem pensa em investir em ações, empresas que pagam bons dividendos podem ser a alternativa certa para a aposentadoria. Essa é a linha seguida pelo megainvestidor Luiz Barsi Filho. O bilionário construiu seu patrimônio por meio da “carteira de ações previdenciária”, que segue uma estratégia de investimentos em companhias sólidas, perenes e que pagam bons dividendos para garantir renda no longo prazo.