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Estudo aponta que estresse crônico aumenta o risco de Alzheimer

Tanto o estresse crônico quanto a depressão podem aumentar os níveis de cortisol no organismo

Fonte: Da redação

Um estudo recente publicado no periódico Alzheimer’s Research & Therapy revelou que pessoas com estresse crônico e depressão têm um risco significativamente maior de desenvolver comprometimento cognitivo leve (CCL) ou até mesmo Alzheimer. Segundo a pesquisa, indivíduos afetados por um desses transtornos mentais apresentam mais que o dobro de probabilidade de serem diagnosticados com Alzheimer em comparação com aqueles que não sofrem dessas condições. Para aqueles que convivem com ambos os distúrbios, o risco de desenvolver a doença que afeta a memória pode ser até quatro vezes maior.

A análise, publicada no final de 2023, foi conduzida com cerca de 1,3 milhão de homens e mulheres entre 18 e 65 anos, em Estocolmo, Suécia. Os pesquisadores analisaram registros de estresse crônico e depressão dessa população entre 2012 e 2013 e, em seguida, coletaram dados de diagnósticos de Alzheimer, CCL ou outras formas de demência entre 2014 e 2022.

Cortisol e Degeneração Neuronal

De acordo com o neurologista Paulo Bertolucci, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), tanto o estresse crônico quanto a depressão podem aumentar os níveis de cortisol no organismo. Esse hormônio, conhecido como “hormônio do estresse”, pode contribuir para uma maior atividade inflamatória em todo o corpo, incluindo o cérebro. A inflamação cerebral favorece a degeneração neuronal, ou seja, a perda de neurônios, especialmente no hipocampo, uma área crucial para a memória.

No entanto, o psiquiatra Alexandre Valverde alerta que a presença de cortisol elevado não deve ser vista como um marcador específico para depressão ou Alzheimer, pois esse hormônio pode se elevar em várias outras situações.

A relação entre depressão e Alzheimer ainda não é totalmente compreendida pela ciência, mas uma das hipóteses envolve a produção exacerbada de cortisol. Outras possíveis explicações incluem uma redução no contato social e um menor engajamento em hábitos saudáveis.

Valverde ressalta a importância de distinguir a depressão como um fator de risco e como um possível sintoma inicial de Alzheimer. “Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é que, em alguns casos, a depressão pode ser uma manifestação inicial do Alzheimer, aparecendo cerca de 20 anos antes do desenvolvimento pleno da doença”, explica o psiquiatra.

Quando o Estresse Se Torna Preocupante

O estresse é uma resposta comum a diversas situações do cotidiano, mas é importante reconhecer quando ele deixa de ser pontual e se torna crônico. De acordo com o psiquiatra Orestes Forlenza, professor da Universidade de São Paulo (USP), o estresse é considerado crônico quando seus sintomas são exacerbados e contínuos, ou ocorrem mesmo na ausência de estímulos reais de ameaça. Esse quadro pode evoluir para outros transtornos, como ansiedade e burnout.

Valverde destaca que diversas estratégias podem ajudar a mitigar os riscos de desenvolvimento de estresse crônico, incluindo cuidados com o sono, uma alimentação saudável, prática regular de atividade física e a redução da exposição a fatores estressores. Além disso, políticas públicas que melhorem o ambiente de trabalho e as relações sociais são essenciais para manter a saúde mental da população.

Diagnóstico de Alzheimer: Complexidade e Importância da Detecção Precoce

O diagnóstico de Alzheimer é complexo e não depende de um único fator. O processo começa com a observação de sintomas, como falhas na memória, relatadas pelo paciente ou por seus familiares. A partir daí, são realizados testes neuropsicológicos para avaliar o declínio cognitivo em comparação com indivíduos da mesma idade e escolaridade.

“O diagnóstico exige uma avaliação clínica detalhada, muitas vezes apoiada por exames de imagem, como a ressonância magnética”, explica Bertolucci. Além disso, exames de biomarcadores, substâncias presentes no organismo que podem indicar a presença da doença, também podem ser solicitados.

A detecção precoce do Alzheimer é crucial para iniciar o tratamento o quanto antes. Embora não seja possível reverter a demência, o tratamento pode retardar sua progressão e aliviar os sintomas cognitivos e comportamentais.

Prevenção e Fatores de Risco Modificáveis

Prevenir o Alzheimer é possível, e a adoção de hábitos saudáveis desempenha um papel fundamental nesse processo. Entre as medidas preventivas destacadas pelos especialistas estão a prática regular de exercícios físicos, o estímulo intelectual e a socialização.

Recentemente, uma comissão de especialistas convocada pela revista científica The Lancet atualizou uma lista de 14 fatores de risco modificáveis para a demência, apontando que 45% dos casos de Alzheimer no mundo poderiam ser evitados com a mudança desses hábitos ou condições de saúde.

“Assim como outros fatores, como perda auditiva, diabetes, hipertensão, apneia do sono ou consumo de ultraprocessados, a depressão e o estresse crônico são apenas parte de um espectro mais amplo de ameaças”, conclui Bertolucci.

Esses achados reforçam a importância de um olhar atento para a saúde mental e os impactos do estresse crônico e da depressão, não apenas na qualidade de vida, mas também na prevenção de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.

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