O volume de tentativas de golpes e fraudes em anúncios relacionados a políticas públicas de inclusão financeira no Brasil aumentou 35,4% em janeiro deste ano, após a revogação das regras de fiscalização de transações via Pix pelo governo. O dado faz parte de um levantamento do NetLab, laboratório de pesquisa da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ), que analisou 1.770 anúncios pagos em redes sociais da Meta, promovidos por 151 anunciantes.
Entre 10 e 15 de janeiro, período em que o governo anunciou novas regras para monitoramento de transações do Pix acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para jurídicas, foram identificados 752 anúncios fraudulentos. Após a revogação dessas normas, entre 16 e 21 de janeiro, o número subiu para 1.018, representando um crescimento de 35,4%.
O relatório aponta que 70,3% dos anúncios analisados foram manipulados com ferramentas de inteligência artificial (IA), enquanto 40,5% partiram de páginas que simulavam perfis oficiais do governo federal. Além disso, 31,7% dos anúncios fraudulentos utilizavam imagens adulteradas (deepfakes) do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), figura central na campanha pela revogação das novas regras do Pix.
O NetLab destacou que o alcance dessas fraudes foi potencializado pelas ferramentas de marketing da Meta, que permitem segmentação de anúncios com base em critérios demográficos e de interesse, mas sem oferecer total transparência sobre esses dados. Os anúncios exploravam tanto políticas públicas legítimas, como o serviço “Valores a Receber” do Banco Central, quanto falsos programas de resgate de dinheiro em instituições financeiras.
Do total analisado, 81,7% dos anúncios fraudulentos alegavam estar relacionados ao serviço do Banco Central, e 40,5% foram veiculados por páginas que simulavam ser órgãos do governo federal.
Em resposta, a Meta afirmou que não permite atividades destinadas a enganar, fraudar ou explorar usuários em suas plataformas e que está constantemente aprimorando suas tecnologias para identificar atividades suspeitas. A empresa também orientou que usuários denunciem conteúdos suspeitos diretamente nos aplicativos.
O deputado Nikolas Ferreira, mencionado no estudo, não se pronunciou até a publicação desta reportagem.