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Depressão e ansiedade elevam risco de doenças cardiovasculares, aponta estudo

Estresse, solidão e problemas emocionais são agora reconhecidos como fatores de risco tão graves quanto o tabagismo

Fonte: Da redação com Hospital Moinhos de Vento

Um novo consenso clínico da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), apresentado no Congresso de 2025 em Madri, lança um alerta importante sobre a ligação direta entre saúde mental e doenças cardiovasculares. O documento aponta que transtornos como depressão, ansiedade e distúrbios psiquiátricos graves podem reduzir a expectativa de vida em até 20 anos, tendo as doenças cardíacas como uma das principais causas de mortalidade entre os pacientes. De acordo com a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), os problemas emocionais passam a ser considerados um fator de risco tão significativo quanto o tabagismo, reforçando a necessidade de um olhar integral sobre o paciente.

A ciência tem mostrado de forma crescente como essa conexão se manifesta. Estudos recentes indicam que a solidão e o isolamento social elevam a produção de proteínas ligadas à inflamação e infecções, aumentando a probabilidade de doenças cardiovasculares, derrames e até diabetes tipo 2. Já o estresse crônico, frequentemente presente em quem enfrenta distúrbios mentais, provoca alterações biológicas que fragilizam o organismo, como a elevação da pressão arterial e o aumento da inflamação.

Segundo a cardiologista Carisi Anne Polanczyk, chefe do Serviço de Cardiologia e Cirurgia Cardiovascular do Hospital Moinhos de Vento, o corpo responde ao estresse liberando hormônios como cortisol e adrenalina, que a longo prazo sobrecarregam o sistema cardiovascular. Essa reação danifica os vasos sanguíneos e favorece a formação de placas nas artérias, criando um ambiente propício para infartos e AVCs. “Devemos cada vez mais ter um olhar amplo, considerando aspectos físicos, emocionais e socioeconômicos em uma abordagem colaborativa entre cardiologistas e psiquiatras, visando tratar o paciente de forma integral, e não apenas a doença”, ressaltou a médica, que participou da apresentação do consenso europeu.

Entre os achados, a solidão foi identificada como responsável pelo aumento de cinco proteínas no sangue, que ajudam a explicar a relação entre esse sentimento e o maior risco de mortalidade cardiovascular. Uma delas, a proteína ADM, está associada à regulação de hormônios do estresse e da ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”. Níveis elevados dessa proteína foram ligados a menor volume de áreas cerebrais relacionadas à percepção do corpo e às interações sociais e emocionais, além de estarem conectados a um risco maior de morte precoce.

O tratamento adequado de transtornos mentais, como depressão e ansiedade, pode trazer benefícios concretos à saúde cardíaca. Pesquisas mostram que pacientes cardíacos tratados de forma integrada chegam a reduzir em até 75% o risco de novas internações, além de apresentarem maior adesão ao tratamento cardiológico e melhora significativa no bem-estar físico e mental.

O consenso divulgado em Madri reforça a necessidade de que profissionais de saúde não se limitem a tratar apenas o corpo, mas considerem o paciente em sua totalidade. “É fundamental que os profissionais reconheçam a urgência dessa conexão. Não é aceitável que a saúde psicológica seja ignorada, pois ela é uma aliada poderosa na prevenção e recuperação de doenças cardiovasculares”, concluiu Polanczyk.

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