
As perdas financeiras causadas por golpes digitais atingiram novos patamares em 2025. Segundo a empresa de inteligência antifraude Silverguard, o prejuízo médio das vítimas chegou a R$ 2.540 neste ano, um aumento de 21% em relação a 2024. O dado faz parte da terceira edição da pesquisa Golpes com Pix, divulgada nesta segunda-feira (27), que aponta um cenário de sofisticação crescente nas fraudes e mudanças no perfil dos golpistas e das vítimas.
O estudo mostra que os criminosos vêm adotando estruturas empresariais para movimentar o dinheiro obtido de forma ilícita. Se em 2024 apenas 42% das transferências fraudulentas terminavam em contas de pessoas jurídicas, neste ano a proporção subiu para 65%. A maior parte dos recursos é direcionada a empresas do tipo sociedade limitada (Ltda), o que, segundo a Silverguard, indica uma “profissionalização do crime digital” e maior dificuldade nas investigações e bloqueios.
Os golpes mais comuns continuam sendo as compras falsas em perfis ou lojas inexistentes, que representam 42,9% dos casos, seguidas por falsas oportunidades de emprego (12,5%) e promessas de investimento ou multiplicação de dinheiro (12,2%). Ainda que menos frequentes, as ligações telefônicas aparecem como as mais danosas: com apenas 1,8% das ocorrências, causam um prejuízo médio de R$ 6.200 por vítima — um terço envolvendo o chamado spoofing, quando o golpista utiliza um número conhecido para enganar o usuário.
A vulnerabilidade varia conforme o perfil das vítimas. Idosos concentram 30,8% dos casos e são os mais prejudicados financeiramente, com perdas médias de R$ 4.820 — cinco vezes mais que os jovens de 18 a 24 anos, cujo prejuízo médio é de R$ 964. O golpe do “pedido de dinheiro”, no qual criminosos se passam por filhos ou familiares em aplicativos de mensagem, responde por 21% das fraudes cometidas contra pessoas com mais de 60 anos. Entre menores de 18 anos, 59% das ocorrências envolvem compras falsas.
O levantamento também revela grandes variações regionais e de renda. Alagoas lidera o ranking nacional, com média de R$ 3.370 por vítima, seguida por Espírito Santo (R$ 2.890) e Roraima (R$ 1.880). Em São Paulo, maior centro financeiro do país, a média é de R$ 1.600. Entre as classes A e B, o prejuízo médio é de R$ 10.500 — um aumento de 67% em relação ao ano anterior —, enquanto nas classes D e E a perda média é de R$ 1.500. Já entre pessoas jurídicas, as perdas chegam a R$ 5.200, o dobro do registrado entre pessoas físicas.
A pesquisa foi conduzida em três etapas. Primeiro, a Silverguard utilizou dados obtidos via Lei de Acesso à Informação junto ao Banco Central sobre o Mecanismo Especial de Devolução (MED), criado em 2021 para bloquear e restituir valores transferidos via Pix em casos de golpe. Em seguida, foram analisadas 12.197 denúncias recebidas pela Central SOS Golpe, da própria empresa, e, por fim, realizadas entrevistas com especialistas em prevenção a fraudes no Brasil e no exterior. O recorte demográfico foi definido conforme a distribuição da população brasileira.
Para a Silverguard, a expansão dos golpes e o uso crescente de contas empresariais mostram que o cibercrime se adaptou ao avanço do Pix e à resposta das autoridades. A conclusão é que as fraudes digitais no país não apenas se multiplicam, mas também se estruturam de forma mais complexa, exigindo novas estratégias de prevenção e investigação.