Os dentifrícios e enxaguantes bucais são cosméticos ou medicamentos?
Nos somos um tubo ou canudo cheio de orifícios, que por fora tem a pele, e por dentro as mucosas. Elas se iniciam e continuam nos lábios e região anal no sistema gastrintestinal. Pele e mucosas não têm ulcerações, nem comunicações com o meio interno representado pelas nossas carnes, e sangram se acontecerem. Quando houver os traumatismos e penetrações bacterianas, teremos a inflamação para nos defender.
POR FORA
Muitas coisas são usadas na pele que, nos animais, chamamos de couro. Ela tem camadas superficiais de proteínas de queratina, que além de espessá-la, protege pela sua rigidez, pois é o mesmo material dos pelos, cabelos e unhas. Muitos produtos não chegam em nossas carnes, pois não conseguem atravessar a camada espessa de queratina da pele.
Quantas tintas, alisadores, clareadores, sabões e outros são aplicados no couro cabeludo sem agredir os tecidos abaixo da pele. Mas, devemos tomar cuidados especiais pois um ou outro produto, pode atuar dissolvendo a pele e cabelos, especialmente quando temos ulcerações ou o cheiramos muito de perto quando está em nossa cabeça. Alguns produtos são tóxicos e outros carcinogênicos.
Às vezes, tenho dificuldade de entender a classificação de produtos em cosméticos e em medicamentos. Os cosméticos, a agência avaliadora não testa antes de entrar no mercado, apenas ela é comunicada que o produto foi lançado. Só será acionada se alguém fizer alguma denúncia. Se for medicamento, ela solicita estudos e pesquisas que provocam a efetividade e a baixa ou ausência de toxidade ou efeitos colaterais e só assim libera para o mercado.
POR DENTRO
As mucosas nos orifícios e na parte interna do tubo que somos, em sua maioria, não tem queratina na superfície. Quando tem, é bem fina, mas na maioria é ausente. Se colocarmos alguns remédios e produtos na boca, podem ser absorvidos e entram no sangue, devido ao grau de permeabilidade das mucosas. Isto inclui as mucosas genitais, dos olhos, nariz, etc.
Nem tudo que se passa na pele, pode-se usar nas mucosas, são situações totalmente diferentes. Os produtos que se passam na boca e outras mucosas não deveriam ser considerados cosméticos e sim medicamentos, pois penetram-nas pela ausência de queratina. A autorização de uso, deveria ser muito mais rígida e científica, e não é.
Outro aspecto muito importante: os produtos que passam na boca, incluindo-se alimentos e bebidas, geralmente fazem isto várias vezes ao dia como os dentifrícios em creme, gel e pasta, os antissépticos, as bebidas alcoólicas, clareadores dentários e muitos outros.
As exigências para se aprovarem o uso e venda destes produtos não poderia ser uma simples comunicação do fabricante para a agência avaliadora de que é um cosmético. Nas mucosas e especialmente na boca, a situação deveria ser singular em relação à pele. Deveria se apresentar pesquisas e avaliações publicadas em revistas científicas exigentes e disponíveis para as mídias gerais. Um cosmético não deve mudar a função da área onde atua, já medicamento tem esta finalidade para restabelecer a normalidade, alterando a sua fisiologia: esta seria a diferença!
REFLEXÃO FINAL
O que se usa na boca ou se passa pelas mucosas, em especial na boca, deveriam ser mais bem avaliadas pelos órgãos de controle, antes de ganhar o mercado e ser acessível às pessoas leigas. Elas não sabem interpretar adequadamente o conteúdo dos rótulos e caixas, e muitos menos sabem que o produto adquirido apenas ganhou o rótulo de cosmético e não medicamento, e por isto, sua avaliação não foi tão exigente e segura. Os impostos também servem para que a sociedade mantenha este controle.
Na pele e mucosas, o processo deve ser distinto. Simples assim: o que tem no batom pode ser engolido? E o dentifrício, pode ser ingerido? Você sabe o que tem nestes dois produtos?