O maranhense Marcos Sousa, de 18 anos, tornou-se o primeiro brasileiro a conquistar um contrato vitalício com o corpo de baile da Ópera Nacional de Paris, uma das companhias mais prestigiadas do mundo. A notícia chegou no fim de junho e marca o início de uma nova fase na carreira do jovem, que se prepara para voltar à capital francesa para participar da temporada 2024/2025, cujo balé de abertura será Giselle.
Natural de Grajaú, no interior do Maranhão, Marcos descobriu a paixão pela dança ainda criança, se apresentando em quadrilhas juninas. Aos 10 anos, foi incentivado por um coreógrafo local a iniciar aulas de balé e, alguns anos depois, participou de uma seleção para a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville (SC). Em 2020, ingressou na instituição, mas o começo não foi fácil: longe da família e enfrentando a pandemia, precisou lidar com saudade e adaptação a um ambiente totalmente novo. Com o tempo, encontrou apoio na mãe, que se mudou para Joinville em 2021, e na própria disciplina que a escola exigia.
Em 2023, determinado a buscar novas oportunidades, Marcos enviou um e-mail à Escola de Dança da Ópera Nacional de Paris pedindo a chance de fazer uma audição, iniciativa incomum no rigoroso processo de seleção francês. Sem resposta inicial, insistiu com uma nova mensagem meses depois e finalmente recebeu retorno positivo no dia do seu aniversário. A viagem para Paris foi marcada por imprevistos: quatro dias antes da audição, ele torceu o tornozelo direito, mas não desistiu. Fez os exercícios exigidos, suportando a dor com auxílio de medicamentos, e surpreendeu-se com a aprovação ao final do teste.
O período de adaptação na França também trouxe desafios. Diferentes métodos de ensino, barreira linguística e saudade do Brasil marcaram o primeiro ano, mas Marcos perseverou e rapidamente se destacou. Seu desempenho acelerou a progressão dentro do curso, permitindo que concluísse em dois anos o que normalmente leva três. No processo seletivo para o corpo de baile, realizado em junho deste ano, o jovem apresentou variações de A Bela Adormecida, de Rudolf Nureyev, e foi um dos sete aprovados, tornando-se o primeiro homem brasileiro a integrar o elenco com contrato vitalício.
Marcos atribui sua conquista ao rigor técnico aprendido no Bolshoi brasileiro, única filial do famoso teatro russo fora da Rússia. A instituição, fundada em 2000 em Joinville, oferece bolsas integrais e abriga cerca de 260 alunos de diversos países, sendo um importante polo de formação artística e social. De acordo com o diretor-geral Pavel Kazarian, mais de 70% dos alunos formados pela escola atuam profissionalmente na dança, transformando a vida de famílias e comunidades.
Enquanto aguarda o início da temporada da Ópera de Paris em agosto, Marcos passa férias no Brasil, dividindo o tempo entre Joinville e sua cidade natal. Ainda sem saber qual papel dançará em Giselle, ele comemora o marco histórico e reflete sobre a trajetória marcada por superação e persistência. “Até hoje não acredito que sou o primeiro brasileiro a ter um contrato vitalício aqui. Passa um carrossel na minha cabeça”, disse, emocionado, ao recordar o momento em que ligou para a mãe para contar a novidade.